Planejamento na medida certa, na hora certa
Planejamento é bom, todos nós sabemos. Mas a forma de planejar um projeto pode variar muito, de acordo com suas características. Sponsors mais conservadores sempre desejam um plano extremamente detalhado, com a especificação precisa de tudo que será feito, ainda antes do início da execução do projeto. O problema é que em muitas circunstâncias as informações disponíveis neste momento são insuficientes para um detalhamento desta natureza.
Há projetos em que se sabe perfeitamente o que se quer e o que tem que ser feito para a obtenção dos resultados desejados. Um bom exemplo deste caso é a construção de um prédio de apartamentos voltado para um público de renda mais baixa. As construções costumam ser extremamente padronizadas, com requisitos e processos produtivos bem conhecidos. Nesse caso creio ser possível a existência de um plano de projeto detalhado antes do início da execução. Ele poderá sofre mudanças e refinamentos, mas de modo geral se manterá relativamente estável.
Agora imagine um projeto que tenha como resultado permitir que um varejista passe a executar suas vendas também pela Internet. O número de possíveis caminhos a serem tomados no projeto de montagem de uma operação deste tipo é muito grande. E para cada conjunto de possibilidades, o trabalho a ser executado, o custo e o tempo de execução podem variar bastante. Para ilustrar vejamos algumas possibilidades de variação:
Em relação à parte de tecnologia a empresa poderia:
– Optar por criar uma estrutura própria de hardware e software para hospedar sua loja virtual
– Construir um software próprio e rodá-lo em um datacenter terceirizado
– Utilizar uma loja virtual já montada, com toda a infra-estrutura já pronta
Em relação às entregas para os clientes ela poderia:
– Utilizar os Correios
– Utilizar grande empresas de entrega, tais como DHL, Fedex, etc
– Utilizar pequenas empresas locais de entrega
– Utilizar um mix destas diversas opções
Em relação à estruturação de centros de distribuição (CDs):
– Poderia haver um único CD a partir do qual as entregas para todos os estados do Brasil ocorreria
– Poderia-se optar por CDs descentralizados em cada um dos estados da federação
Como já foi possível perceber existem muitas possibilidades. Claro que a documentação de algumas premissas poderia melhorar um pouco a situação, tornando o cenário mais definido. O problema é que as análises a serem feitas para que cada uma das decisões sejam tomadas não raro são complexas e podem ser melhor gerenciadas se fizerem parte do ciclo de vida do próprio projeto. Nesse caso não tem jeito: devemos recorrer ao velho e bom planejamento em ondas sucessivas. Na minha opinião um dos mais importantes conceitos a serem conhecidos e utilizados na prática pelos gerentes de projeto. Mas que no dia a dia costuma ser desconsiderado, mesmo quando sua utilização é a única opção viável para o sucesso.
Para quem não conhece o conceito, segue sua definição, presente no PMBOK:
Planejamento em ondas sucessivas / Rolling Wave Planning [Técnica]. Uma forma de planejamento de elaboração progressiva em que o trabalho que será realizado a curto prazo é planejado em detalhes em um nível baixo da estrutura analítica do projeto, enquanto o trabalho distante no futuro é planejado em um nível relativamente alto da estrutura analítica do projeto. Porém, o planejamento detalhado do trabalho a ser realizado dentro de mais um ou dois períodos no futuro próximo é feito conforme o trabalho está sendo terminado durante o período atual.
Traduzindo de forma bem pragmática, significa planejar o que se conhece de forma detalhada e o que não se conhece de forma mais superificial. Como à medida em que o projeto avança o conhecimento a seu respeito aumenta, significa também que o planejamento deve ser refinado várias vezes ao longo do projeto.
Assim, se você trabalha com projetos em que há muitas indefinições em relação ao que se quer ou em relação a como atingir os objetivos (grande maioria), não se orgulhe de, ainda antes de a execução começar, apresentar um plano super-detalhado mesmo para as últimas fases do projeto. Se este for o desejo do seu chefe, você o agradará num primeiro momento, mas certamente terá problemas em um futuro bem próximo. Quer apostar?
Andriele, concordo plenamente! Estou em processo de implantação de minha loja virtual e, como você menciona no texto, é exatamente como estou seguindo. Conheço parte do negócio e esses estão bem detalhados, enquanto que outras partes ainda mais obscuras, serão detalhadas mais a frente. Obrigado por esclarecer mais um pouco esse assunto.
Abraços!
Eu é que agradeço, Leonardo! Pela sua visita e comentário… Fico feliz em tê-lo ajudado.
Bom post.
Entendo que Rolling Wave muitas vezes é nossa única opção, porém é um enorme risco ao projeto, e como todo risco deve ser controlado e mitigado.
Olá Luiz,
Certamente a chance da existência de riscos importantes em projetos que utilizam o Rolling Wave Planning é grande. Mas acho que é mais uma decorrência da natureza do projeto (normalmente com pontos nebulosos e indefinidos num primeiro momento) do que um risco ocasionado pela aplicação da técnica. Concordo que um processo de gerenciamento de riscos é fundamental como estratégia complementar para garantir o sucesso do projeto.
Muito obrigado pela visita e comentário!
Oi Andriele,
Alguns colegas me perguntam se a utilização de “planejamento em ondas sucessivas” não seria uma boa saída para desenvolvimento de softwares. Neste tipo de projeto muitas vezes o cliente vai ‘descobrindo’ realmente o que quer (escopo) com o passar do tempo e na medida que recebe os pequenos módulos para ‘aceite/homologação’. Qual sua opinião a respeito?
Penso que o plan. em ondas sucessivas é muito interessante se a equipe do seu projeto é interna e está a disposição da empresa (recebem salário fixo mensal). Também se o projeto não exige uma data final já em seu início (fase de iniciação/planejamento). Ou seja, “vou fazendo” e a medida que o cliente estiver satisfeito, paramos. No entanto se formos os ‘terceiros’ ou prestadores de serviço para desenvolver o software e nos for exigido no início um orçamento e data final, esta técnica não vejo como a melhor.
Att,
Dimitri
Olá Dimitri,
Primeiramente muito obrigado pela visita e comentário!
Vamos aos seus questionamentos:
1 – O planejamento em ondas sucessivas é sim uma boa saída para projetos de desenvolvimento de software, especialmemente nos casos em que a estabilidade dos requisitos é baixa. Esta filosofia é uma dos pilares dos métodos ágeis (tais como Scrum) apesar de muitos não se darem conta disto.
2 – Creio que o uso do planejamento em ondas sucessivas esta sujeito a menos questionamentos em projetos internos. Nesse ponto concordo com você. Mas não acho que a existência de uma data final seja um problema impeditivo. Basta mudar um pouco a forma de pensar. Se a incerteza é grande você passará a ter uma data fixa e um escopo mais variável. Será entregue aquilo que for prioritário, dentro dos limites de custo e cronograma já previstos.
Espero ter esclarecido.
Abraços!
Obrigado pela sua opinião!