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“O projeto andou pra trás?”

Já falei por aqui sobre possíveis contribuições que um software de gerenciamento de projetos pode trazer para o bom desempenho dos gerentes. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados em sua utilização, para que problemas e uma falsa sensação de controle sejam evitados. Software é apenas uma ferramenta e não é um atalho para capacitação de fato em gerenciamento de projetos. A história abaixo ilustra bem o que quero dizer.

Uma grande empresa de TI tinha em mãos um dos mais desafiadores projetos de sua existência. A substituição da tecnologia básica (hardware e software) que suportava a maioria das soluções oferecidas aos seus maiores clientes. Dada a criticidade da iniciativa, o presidente assumiu pessoalmente o papel de sponsor. Após alguns meses em que o projeto parecia não caminhar muito, deliberou que todas as reuniões gerenciais (que ocorriam mensalmente com todos os representantes funcionais da organização – gerentes, superintendentes e diretores), teriam em sua pauta uma apresentação breve e objetiva do projeto. Para garantir tal objetividade optou-se, entre outras coisas, pelo uso de um indicador de progresso – o % de conclusão.

Primeira reunião e o indicador foi apresentado: “Concluímos 13% do projeto!” – disse o gerente.

Segunda reunião e as coisas pareciam caminhar bem: “O percentual de conclusão atual do projeto é 25%” – anunciou novamente o gerente. Doze por cento em um mês é significativo, para algo que todos sabiam ser demasiado complexo.

Terceira reunião e o ritmo parecia ter diminuído: “Avançamos pouco desta vez presidente: estamos com 27% concluído”. A explicação que se seguiu, na tentativa de justificar as diferenças de desempenho entre os dois meses não parecia muito convincente . Mas a reunião terminou sem maiores percalços.

Na quarta reunião algo muito estranho aconteceu. Após uma explicação um pouco mais longa sobre o andamento do projeto veio a afirmação, no mínimo curiosa: “… e nosso percentual de conclusão é de 26%.”

O sponsor do projeto, incrédulo, disparou: “Deixe-me ver se entendi direito. O projeto andou pra trás?”

Evidentemente, as explicações dadas pelo gerente ao sponsor para o retrocesso do projeto não foram aceitas. Uma delas foi um possível aumento do escopo do projeto. Mas como o escopo foi aumentado sem que o sponsor tomasse conhecimento? Se este fosse o único motivo, já teríamos um problema na abordagem de gestão utilizada. Mas não era. O fato é que o % de conclusão do projeto era dado pelas contas realizadas pelo software Microsoft Project. Entretanto o software tem uma lógica para o cálculo desse percentual. E o padrão de atualização do cronograma (seja na atualização do progresso individual das atividades, seja no refinamento/desmembramento das atividades) deve ser feito segundo determinadas diretrizes, compatíveis com esta lógica, para que os resultados dos cálculos sejam confiáveis. Não basta simplesmente lançar um conjunto de números e copiar o % global apresentado para a apresentação do Powerpoint a ser mostrada na reunião de status. Parece que isso não foi muito bem observado.

Um cronograma, com suas datas de início e fim, recursos alocados e percentuais de conclusão individuais de cada tarefa é apenas um modelo da realidade. Os resultados apresentados serão tão bons quanto for a modelagem realizada. É muito importante saber o que se está fazendo. De outra forma o gerente de projeto pode passar por situações no mínimo constrangedoras, como a descrita acima.

  1. Rafael Faria
    julho 19, 2008 às 10:01 pm

    Parabens pelo site. Sempre com excelentes artigos.
    A situacao citada neste ultimo tambem quase aconteceu comigo nao fosse uma simples planilha de excel que eu tambem utilizava na epoca para acompanhar o projeto. Ate hoje nao aprendi a como suprir esse problema do Project. Cases como este sao sempre bem-vindos como aprendizados.
    Continue com o bom trabalho!

  2. andriele
    julho 20, 2008 às 1:59 pm

    Muito obrigado Rafael! Que bom que no seu caso uma ferramenta auxiliar (Excel) evitou problemas no controle do seu projeto. O objetivo do artigo foi justamente chamar a atenção para estes cuidados que devem ser tomados pelo GP. A situação descreve um erro aparentemente banal, mas muito comum. Conto com novas visitas e comentários seus! Grande abraço!

  3. LUIS BARRETO
    julho 22, 2008 às 10:54 pm

    Cara Andriele, parabéns como artigo.
    É exatamente isto que acontece no acompanhamento de muitos projetos. Contudo senti a falta de vc indicar uma saida para esta situação.
    Quando falamos de projetos longos, com um grande numero de atividades e recursos envolvidos, ainda precisamos de ferramentas de auxilio no controle dos projetos (MS Project).
    Qual a saída? Planilha excel, não acredito.
    Forte abraço e sucesso.

  4. andriele
    julho 23, 2008 às 8:29 am

    Olá Luís,

    Três atitudes que podem ajudar:

    – Ter um critério consistente para atualização do progresso das atividades.

    – Ter sempre uma Baseline salva contra a qual você pode comparar o curso real do projeto.

    – Ter sempre atenção à variação da quantidade de trabalho associada à Baseline. Um aumento nesta quantidade significa um aumento no escopo do projeto (pelo menos pela definição padrão de escopo do PMBOK

  5. Vitor
    novembro 29, 2008 às 9:02 am

    Olá Andriele, parabéns pelo site.

    Uma dúvida: caso haja realmente o aumento do escopo, aprovado pelo sponsor, eu acredito que é possível a evolução diminuir na visão geral, dado que novas atividades serão incluídas. Você concorda ?

  6. andriele
    novembro 29, 2008 às 12:02 pm

    Obrigado Vitor! No caso que você citou eu concordo sim. Abraços!

  7. Carlos Moro
    janeiro 31, 2009 às 7:59 pm

    Oi Andriele.

    Gostei muito do artigo e já me motivou a visitar o seu site com mais atenção !!!

    Quero comentar o contexto sugerido pela situação descrita: o famigerado “% concluído” como métrica válida…

    Em qualquer projeto é preciso dar atenção ao significado das informações, talvez mais ainda do que ao seu valor informado. O que significa 50% ? Seria metade do prazo previsto para uma atividade que passou ? Seria metade do trabalho previsto nessa aividade que se realizou ?

    Tanto num caso, quanto no outro, a informação não leva a conclusões objetivas, mesmo que sejam informações “precisas”. Explico: Há várias tendências HUMANAS atuando na dinâmica de evolução de uma aividade… se escolhe começar pela parte “mais fácil”… muitas vezes se avalia a evolução pela frequência das pessoas (horas passadas trabalhando na atividade) e não pelo avanço real do escopo durante essas horas… se conhece menos o escopo na previsão e as “surpresas” de campo são deixadas pra depois, ou até mesmo ignoradas, ao invés de causar uma mudança no plano de trabalho… e muitas mais.

    Muito mais significativo, portanto, é acompanhar e comparar as previsões de TRABALHO RESTANTE, o que permite ações mais ágeis e eficazes.

    Como fazer isso ? Sugiro o MS Project e a Corrente Crítica (E.Goldrat). Seq quiserem, trocamos mais idéias sobre isso…

    Abraços e BONS PROJETOS
    Carlos Albero Moro
    des.envolver consultoria e desenvolvimento
    PESSOAS – EQUIPES – ORGANIZAÇÕES

    • andriele
      fevereiro 4, 2009 às 1:37 pm

      Concordo com você Carlos! Pensar no trabalho restante realmente torna o cálculo do que já foi feito mais preciso.
      Para conversarmos mais a respeito convido você a participar de Project People, a primeira rede social sobre Gerenciamento de Projetos do Brasil. Hoje já temos quase 400 associados e certamente a evolução desta nossa discussão será muito bem vinda por lá. Já existem vários grupos de interesse específicos e você pode inclusive criar outros. Para entrar faça seu cadastro em: http://projectpeople.ning.com/?xgi=5vT3xaM
      Para entender melhor o que é ProjectPeople, visite: https://falandoemprojetos.wordpress.com/o-que-e-project-people/

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